Uma disputa entre os núcleos político e militar do futuro
governo de Jair
Bolsonaro e a intenção de dar um novo perfil ao Ministério do
Meio Ambiente têm dificultado a escolha do nome do ministro que irá
comandar a pasta. Nesta terça-feira, 4, Bolsonaro voltou a adiar a definição.
Ele pretende indicar um nome que faça uma “sinergia” com o setor ruralista com
o argumento de que existe no País uma “indústria de multas” ambientais.
Num encontro com deputados do MDB em Brasília, Bolsonaro
disse que há “muita coisa em jogo” nessa área e a pasta será a última das 22
que terá seu titular anunciado.
Além do Meio Ambiente, o presidente eleito ainda não definiu
o futuro ministro dos Direitos Humanos, Família e Mulheres, que poderá
ficar com o setor evangélico.
Para tentar destravar a indicação do ministro do Meio
Ambiente, Bolsonaro teve uma série de encontros nas duas últimas semanas. As
reuniões provocaram especulações, convites recusados e descartes de nomes. Para
auxiliares do presidente eleito, há quase um consenso de que o ministério deve
ser uma espécie de “secretaria” da pasta da Agricultura.
Um sinal de desavença entre os vários núcleos que apoiam
Bolsonaro está no fato de que há pelo menos dois grupos trabalhando em
propostas para a área ambiental. Na equipe de transição, há o GT de ambiente,
ligado ao núcleo militar, liderado pelo biólogo Ismael Nobre. Mas há também uma
outra equipe, coordenada pelo agrônomo Evaristo de Miranda, da Embrapa,
que, a convite de Onyx Lorenzoni –
futuro ministro da Casa Civil –, elabora um diagnóstico sobre o funcionamento
da pasta a fim de propor a sua reformulação.
Miranda foi um dos primeiros nomes cotados para a pasta, mas
já afirmou diversas vezes que não aceitaria o convite por questões pessoais.
Ao Estado, disse que espera poder contribuir mais com o futuro governo
como pesquisador.
Seu nome também não agrada aos militares e é contestado por
uma boa parcela da comunidade acadêmica, em especial por cientistas que
trabalham com inteligência territorial e georreferenciamento de dados mesmo
dentro da Embrapa.
Na prática, enquanto o grupo político da transição busca
mais espaço e um nome alinhado a seus interesses, os militares tentam exercer
seu poder de veto.
Delegado. Nesta terça-feira, Bolsonaro conversou por
telefone com o delegado Alexandre Silva Saraiva, superintendente da Polícia
Federal no Amazonas. A entrada de Saraiva na lista de cotados evidenciou, para
integrantes da equipe de transição, que o trabalho do Ibama de
combate às máfias que atuam na Amazônia não necessariamente será
esvaziado.
Militares da reserva próximos a Bolsonaro, porém, têm
defendido a escolha de um general, mas a proposta não foi bem vista na
transição. Também estão na lista de cotados o advogado Ricardo Salles,
ex-secretário de Meio Ambiente do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) e filiado
ao Novo, e o engenheiro agrônomo Xico Graziano,
ligado a lideranças tucanas.
O vínculo de Graziano com o PSDB desagrada a parte da equipe
de transição. O núcleo militar chegou a divulgar cópias da capa de uma revista
da época do governo Fernando Henrique Cardoso com Graziano em destaque. Já o
nome de Salles é defendido pelo deputado estadual eleito por São Paulo
Frederico D’Avila (PSL), ligado ao setor do agronegócio.
Na falta de consenso, o nome de Ismael Nobre apareceu como
uma alternativa. Nobre foi sugerido pelo grupo de trabalho da área. Um
documento com as visões dele para a pasta chegou a ser elaborado. Para ele, a
pasta passaria a ser do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável,
promoveria “sintonia” entre agricultura e ambiente, um “licenciamento eficiente
e fim da indústria das multas”.
Recuo. Logo após a eleição, Bolsonaro disse que
pretendia fundir as pastas da Agricultura e do Meio Ambiente. Foi uma
sinalização a ambientalistas que o futuro governo poderia esvaziar o ministério
que controla o Ibama e o ICMbio, órgãos fiscalizadores – uma promessa que
Bolsonaro reiterou em encontro com fazendeiros e líderes ruralistas durante a
campanha. Diante da reação negativa de setores exportadores, que temiam um
desgaste da soja e da carne no exterior, Bolsonaro recuou e decidiu manter a
pasta.
Na semana passada, o general Augusto
Heleno, futuro ministro do Gabinete de Segurança Institucional, procurou
ruralistas de São Paulo para receber indicações. Ele consultou ainda entidades
da área sobre Ricardo Salles.
Na quarta-feira passada, o advogado esteve na sede do
governo de transição para conversar com Bolsonaro. O presidente eleito pediu
que ele permanecesse em Brasília até o dia seguinte. O convite, porém, não foi
formalizado.